segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ai se eu te pego fazendo sucesso no Brasil...

Óculos, RayBan. Charuto, Gloria Cubana. Chapéu, Pralana. Olavo, o idiota de sempre

Vamos ser francos sobre o brasileiro. Tudo bem, eu concordo que o Eike Batista foi um sucesso construído, tão artificial quanto chiclete em prenda de festa infantil. Tudo bem, ele soube usar seus relacionamentos e seu QI (são coisas diferentes!) como ninguém. Tudo bem, ele é o supra sumo master plus da arrogância. Mas sejamos francos: nós a-do-ra-mos o fracasso dos outros. O brasileiro não sente prazer com o sucesso do seu vizinho. Pelo contrário, nós queremos o fracasso alheio para ter um misto de dó e veneno, a pena é nossa esmola. Mas veja o exemplo dos EUA. A cultura do sucesso lá é quase um mantra. Candidato a presidente lá está entre os melhores advogados do mundo, é magnata do petróleo, dono de multinacional e isso não faz dele alguém honesto (ou desonesto) ou competente (ou incompetente). Aqui não, a gente até aceita um candidato que foi ex-camelô, ex-seringueiro, ex-bóia fria que chegou lá (seja lá onde for!). Até torcemos para ele ganhar, mas parece sempre que é para a gente se deliciar quando ele cair depois. Se for rico e tiver sucesso (honestamente), este não aceitamos porque é ofensa pessoal ou pior, alguma coisa (desonesta) ele fez para chegar onde chegou. E isto vale para política, para a cultura, para as finanças, para o carro zerinho do já citado vizinho. As vezes acho que nunca entenderemos uma palavra simples que já se explica por si só: meritocracia. Tá no nosso sangue, mas quem sabe um dia aprendemos. Enquanto isso, vamos ver no que vai dar... Ah, sem trocadilhos, uma segunda de sucesso a todos.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

A liga do regime

Caille en sarcophage - Receita do Filme Fête de Babette
http://alquimiadacozinha.blogspot.com.br

Fui visitar um grupo de controle de peso! Sim, do tipo dos vigilantes do peso. Na realidade, já me explicaram logo no começo, eles eram uma dissidência dos famigerados Vigilantes do Peso, pois acreditavam que os métodos deste grupo eram muito conservadores. Os Espartanos do Peso  - acredite, este era o nome! – eram mais radicais. Logo no início da minha primeira sessão já percebi que a turma era da pesada, no bom sentido do termo, ou seja, da barra pesada, do mal. Basta analisar a cordial saudação de nosso palestrante, Viva Esparta!... E todos respondiam em uníssono, Viva Esparta!... E ele emendava outro grito e todos respondiam, Viva Esparta! Eu, já entrosado, confundi e gritei, Viva Zapata!... O silêncio foi sepulcral. Quase morri de vergonha, mas isso já era quase o fim do meu primeiro encontro com o futuro famélico.
Antes da palestra, sempre há uma, a gente ficava em uma salinha, tomando chá de erva cidreira e comendo as unhas porque salgadinho é algo impensável nestes lugares. A gente ficava conversando sobre tudo. Tudo desde que não estivesse relacionado à comida. Quando comecei a passar uma receita de feijão tropeiro que minha mãe tinha aprendido com minha avó, fui repreendido pelo grupo que me ouvia. Um deles discretamente segurou minhas mãos e apontou em silêncio para o alto, no canto da parede, para uma câmara de circuito interno de TV. E disse bem baixinho: cuidado, estão nos ouvindo.  Tocou um sinal e fizemos uma fila...
A fila parecia ordem unida. Uma fila longa que terminava em uma balança. Cada um que subia o enfermeiro dizia e anotava algo, acho que um número. Atrás de mim tinha uma gordinha estranhíssima. Ficava repetindo para si mesma coisas do tipo... Esse não vai dar, coitado deste, xi que esse a balança não aguenta  Na realidade ela estava nervosa. Fui descobrir que toda reunião as pessoas se pesam para ver se alcançaram as metas da semana. Cada um que subia ali recebia uma informação precisa sobre quanto havia perdido de peso ou quanto havia ganhado naquela semana. Pelo que pude perceber, a gordinha atrás de mim nunca havia conseguido atingir suas metas. Eu, então, presenciei um milagre. Quando ela enfim subiu na balança e o enfermeiro gritou, Muito bem, Leidisleine, 100 gramas! Foi uma comoção que só vendo, todo mundo aplaudindo, se abraçando, a gordinha começou a chorar e uma senhorinha que estava ao meu lado observando tudo emocionada sussurrou, Está é uma vencedora! Fiquei até estimulado... E também fiquei lá, pensando quantas fatias de mussarela são 100 gramas.
Depois sentamos todos no auditório, o mestre de cerimônias anunciava os patrocinadores, um spa e duas clínicas de relaxamento, e começou a dizer os nomes dos presentes que alcançaram as metas da semana. Parecia festa de formatura. O divertido é que o apresentador não dizia o peso alcançado, mas uma referência a ele. Por exemplo, se eu perdia 200 gramas ele anunciava, Olavo, um bifinho, parabéns! Todos batiam palmas. Apareceu de tudo, picanha, lasanha,  um copo de suco de laranja, goiabada cascão, figo em calda. A mistureba era tanta que a gente acabava ficando enjoado e, mais importante, sem fome. Se a referência era algo maior, o que significava uma meta difícil que foi cumprida, o auditório vinha abaixo com aplausos, gritos e assobios. Por exemplo, quando o apresentador anunciou pausadamente, Senhoras e senhores, um herói em nosso meio... Pedro dos Santos, uma melancia inteira! Parabéns Pedrinho! Ficou parecendo estádio de futebol. Cheguei a ficar de pé para poder ver o tal Pedro Melancia. O mocinho estava sentado a alguns metros de minha cadeira, magérrimo, branco como talco, parecia um cadáver, ergueu a mão com dificuldade por causa do delirium tremens e ensaiou um sorriso e eu juro que não percebi se ele ainda tinha dentes. Quando tentou se levantar alguém lhe segurou o braço, acho que era a enfermeira dele, e disse algo do tipo, Não, Pedro, dá última vez você caiu, lembra? Realmente, um sucesso!
Por fim, depois da palestra até que muito boa de um nutricionista e corredor queniano com doutorado em Londres, batemos palmas - eles fazem isso direto, dizem que estimula e perde calorias - e fomos saindo. Agora era enfrentar a semana, com as tabelinhas de pontos, anotações e etc e tal. Conheci um senhor lá naquele dia que levava seu iPad a qualquer restaurante ou lanchonete. Tinha seus pontos registrados em gráficos, planilhas, fazia projeções de consumo para a semana, para o mês, para o ano, cardápios alternativos, tudo gravado. Se estivesse comendo e não estivesse com o computador sobre a mesa pode ter certeza seria um milagre. Nós saímos deste meu primeiro encontro até mais leves. 
O que fiz? Um clássico... Mc Donalds! Inebriado pela sensação de dever cumprido, mesmo que apenas espiritualmente mais magro, pedi um saudoso Big Mc, batata frita crocante e coca diet  para a consciência não abrir a matraca. Quando virei com a bandeja para sentar, vi meu amigo do iPad. Na sua frente uma pilha imensa de embalagens e copos retorcidos. Olhou para mim com aquela cara de "meu-Deus-me-flagraram"! Estava segurando um sanduíche enorme, meio mordido, cheio de mostarda e catchup. Seus olhos me imploravam, Você não me viu aqui, certo? Olhei para ele e acenei com um sorriso, fique tranqüilo e Viva Zapata!... Ele respondeu com a boca cheia de pão, Biva Batata!

O que somente os cães sabem: a grande arte

A árvore da vida, da minha vida.
Local: Vera Cruz, SP.
Meu avô por  parte de pai, “seu” Joaquim, um meio coronel de cidadezinha do interior paulista, tinha um cão perdigueiro de nome Nero. Nome dos mais apropriados para cachorro de coronel. A cena era clássica: vovô sentado na varanda, cigarro de fumo de corda e o Nero aos seus pés a prestar-lhe vigia. 
Pois bem, Nero já era um cachorro avançado na idade, mas mantinha o porte de tempos anteriores, fazia até estrepolias inimagináveis para um cão velho, mas sempre com calma, devagar, sem pressa. Nada abalava o Nero. Nem a morte de vovô, nem rojão de festa junina, nem os meus primos mais novos que o adotavam como montaria nas graças de fim de ano. Vovô legou ao seu fiel companheiro uma pelagem vistosa, um quintal grande onde Nero era imperador entre galinhas e árvores frutíferas e uma certa dose de privacidade e paz canina só perturbada quando vovó Chiquita lhe  despejava restos de frango e de almoço, visto que naquela época, ração era coisa da capital e de importados.
Um dia qualquer, o Nero sumiu. E sumir numa cidade de oito mil habitantes, onde todo mundo conhece todo mundo e o cão de todo mundo e, principalmente, o cão do “seu” Joaquim, é, no mínimo, prodígio. Mas sumiu e ninguém mais viu. Mais tarde fui saber que este comportamento é comum em alguns cães. Nero se retirou tranquilamente, foi se recolher para sempre em algum lugar que eu, uma criança de dez, onze anos não sabia ainda direito onde era. Elegante como poucos, soube até o fim como se portar... Tinha classe o perdigueiro, acredite.
Passado tantos anos, olhando homens e cães, aprendi que envelhecer pode ser uma arte. Com os cães sempre é a única opção, a arte. Com os homens, cuidado, não é, mas pode vir a ser. Posto que é irrevogável que, assim seja, bem feita.
Mas grande perdigueiro tinha vovô... E que Deus me conserve!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Quem é este tal de Habeas Corpus?

No te preocupes, baby. Habemus Habeas Corpus!
Fonte:http://fineartamerica.com/featured/scarface-ylli-haruni.html
Deu no jornal. O cara é condenado a 40 anos de prisão, é solto pelo Habeas Corpus e vai passar lua de mel na praia. E se o Habeas Corpus fosse gente ou algo, quem ou o que ele seria? Algumas opções. Um anti-herói. Sim, um herói as avessas. Ele rouba dos pobres para dar aos ricos. Ele ajudaria o Coringa, o Lex Luthor, o Darth Vader, o Charles Manson, o doutor Zero, os monstros invasores do Japão, o Kim Jong-un a destruir o mundo. Talvez ele pudesse ser apenas um traficante latino envolvido com tóxicos que seria lembrado com Al Pacino em uma nova versão de Scarface. Seria algo do tipo "Scarface e Habeas Corpus, um mata e outro esfola". Poderia ser o último imperador Romano, cunhado (não no sentido bíblico) em alguma moeda de ouro roubado pelo Império em suas incursões pela Ásia. Ave Habeas Corpus I! Poderia ser um laranja. Sim, um laranja. Alguém de algum bairro popular que achou a sonoridade do nome bonita e deu para o filho o nome que não sai dos jornais. "Num sei quem é não, é qui eu ouço tanto que dei o nome pro meu minino. Habeas Corpus Firmino Virgulino. Achei lindiu, nome de doutô, mas ele é trabaiadô honesto". Ou algo mais leve, do tipo uma expressão casual. Como em latim o termo significa "que tenhas o seu corpo", uma gordinha ou gordinho ao olhar uma daqueles corpos maquiados no photoshop das revistas poderia usar esta expressão como se fosse uma benção católica da Idade Média, quando as missas eram rezadas em latim. Habeas corpus seria como um bom dia, boa tarde e boa noite, um desejo de emagrecer. Poderia ser também uma maldição ao modelo da revista que tem aquele corpaço, mas aí vai da índole e do amor próprio de cada um. Brincadeiras à parte, na realidade, o Habeas Corpus é um senhor instrumento do Estado de Direito que protege a sociedade dos excessos do poder, mas que quando mal utilizado torna-se um passaporte vip para algum resort na praia às custas da credibilidade deste mesmo Estado de Direito. 

Rocking Brazil!

Senhor dos anéis militando radicalmente depois de um jantar na sede da Fiesp
foto de Marcos Hiller
Ok, ok, ok, quer dizer que ninguém sabe porque estava lá?! Na manifestação ou na festa?! Passe livre ou boca livre!? Direitos humanos ou direito dos animais de estimação!? Its not about 20 cents?! Alienado ou engajado?! Pela liberdade de imprensa?! Fora corruptos?! Morra este, viva aquele?! Pelo Brasil ou por você mesmo ou por ambos?! Quer saber quem vai me dizer o que é tudo isso? É o futuro, é a história, os analistas daqui há alguns anos. O importante é que eu fui, fui no Facebook, fui na Paulista, fui de corpo ou fui de alma, bati foto, postei, compartilhei, curti. No meu caso, fiz tudo isso por uma única causa. Uma única e simples causa. Meu filho vai querer saber o que eu fui fazer lá. Hoje, ainda não, mesmo porque nem papai sabe. Sua preocupação é assistir os Backyardigans. Sua preocupação é me enrolar para comer o prato de feijão. A minha não. A minha preocupação é outra, é o seu futuro, que eu não sei qual é. Por isso - ir lá - pode até não garantir um grande presente para o meu filho ou para os filhos dos filhos. Mas não ir lá, seja como for, com certeza, não garantiria nenhum futuro mesmo. Eu sei, eu sei, tudo isso parece mesmo um festival de rock, um big Rock in Rio, mas é meio rock mesmo, meio roll, mas in all Brazil. Portanto, eu fui, eu estou, eu vou. E se precisar, depois de alguns anos, eu volto.